Dólar recua após leilão do Banco Central enquanto mercado monitora tensões geopolíticas

Como consequência, o Banco Central do Brasil pode ser pressionado a segurar cortes na Selic, para manter a atratividade dos investimentos no país e evitar uma desvalorização excessiva do real.

Redação

O dólar apresentou queda nesta terça-feira (18) após o Banco Central (BC) realizar um leilão de linha de US$ 3 bilhões, reduzindo a pressão sobre a moeda americana. Às 14h40, o dólar registrava queda de 0,34%, sendo negociado a R$ 5,692, na contramão dos mercados internacionais, onde a moeda se valorizava. O índice DXY, que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis moedas globais, subia 0,36%.

A Bolsa de Valores brasileira também operava em alta, avançando 0,21%, aos 128.823 pontos.

Leilão do Banco Central impulsiona queda do dólar

O recuo da moeda norte-americana foi intensificado por volta do meio-dia, logo após o leilão do BC, realizado entre 10h30 e 10h35. No ponto mais baixo do dia, o dólar atingiu R$ 5,675.

Este foi o terceiro leilão de linha do BC sob a gestão do presidente Gabriel Galípolo. A autarquia já havia vendido US$ 2 bilhões em operações similares nos dias 20 e 29 de janeiro. Além disso, nesta sessão, o BC também ofertou até 15 mil contratos de swap cambial tradicional para rolagem de vencimentos de abril de 2025.

A estratégia do BC busca evitar pressões sobre o câmbio e oferecer liquidez ao mercado, principalmente diante das recentes oscilações na economia global.

Inflação e projeções econômicas

O mercado financeiro segue atento aos indicadores econômicos domésticos. O último Boletim Focus apontou uma expectativa de inflação de 5,60% para 2025, registrando um leve aumento em relação à semana anterior (5,58%). Essa foi a 18ª semana consecutiva de alta na projeção inflacionária.

Para 2026, a previsão de inflação também subiu, passando de 4,30% para 4,35%. O Banco Central trabalha com uma meta de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

Em relação à taxa básica de juros (Selic), as projeções permanecem em 15% para 2025 e 12,50% para 2026. Já o dólar deve encerrar os dois anos na faixa de R$ 6.

O PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro foi revisado para baixo, com previsão de crescimento de 2,01% em 2024, contra 2,03% na semana anterior.

Tensões geopolíticas e impactos no mercado

No cenário global, os investidores acompanham as negociações entre Estados Unidos e Rússia, que ocorrem em Riad, na Arábia Saudita, com o objetivo de buscar um cessar-fogo na Guerra da Ucrânia.

Após três anos de conflito, o mercado vê com otimismo qualquer possibilidade de paz, já que o confronto impacta preços de commodities como petróleo e grãos, elevando a inflação global.

O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, e o chanceler russo, Sergei Lavrov, iniciam hoje uma rodada de diálogos sobre o fim das sanções contra a Rússia e possíveis soluções para o conflito.

Além disso, Reino Unido e Suécia já anunciaram que poderão enviar forças de paz à Ucrânia caso o cessar-fogo seja confirmado.

Tarifas comerciais e postura de Trump

Outro fator que influencia o mercado é a postura do presidente dos EUA, Donald Trump, em relação às tarifas comerciais. Na segunda-feira (17), ele voltou a falar sobre a implementação de tarifas recíprocas, reforçando que países que impõem tarifas aos EUA poderão sofrer retaliações.

“Se um país achar que os EUA estão cobrando uma tarifa muito alta, tudo o que precisa fazer é reduzir ou extinguir a tarifa contra nós”, declarou Trump no X (antigo Twitter).

Essa medida tem um potencial inflacionário, pois pode elevar o custo de vida nos Estados Unidos e forçar o Federal Reserve (Fed) a manter juros elevados por mais tempo.

Como consequência, o Banco Central do Brasil pode ser pressionado a segurar cortes na Selic, para manter a atratividade dos investimentos no país e evitar uma desvalorização excessiva do real.

Perspectivas para o mercado

A expectativa para o restante do dia é de que os mercados sigam monitorando os desdobramentos das negociações geopolíticas e comerciais. Com os mercados dos EUA reabertos após o feriado do Dia dos Presidentes, as incertezas sobre a política externa e monetária norte-americana devem influenciar o rumo do dólar e das bolsas.

A volatilidade cambial também pode aumentar à medida que investidores avaliem as decisões futuras do Banco Central do Brasil, especialmente no que diz respeito a novas intervenções no câmbio.

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