A pré-candidatura do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), ao Governo da Paraíba em 2026 já é tratada como praticamente certa na oposição. A novidade, revelada por bastidores políticos, é um rascunho de acordo articulado com o clã Cunha Lima, que pode reconfigurar os rumos da política estadual e municipal nos próximos anos.
Pelo entendimento, caso seja eleito governador, Cícero apoiaria a candidatura de Pedro Cunha Lima (PSD) à Prefeitura de João Pessoa em 2028. Em contrapartida, Pedro abriria mão de disputar o governo em 2026 para apoiar a candidatura de Cícero. O esboço do acordo prevê ainda a possibilidade de Juliana Cunha Lima, primeira-dama de Campina Grande, ocupar a vaga de vice na chapa, formando uma composição que uniria os dois maiores colégios eleitorais do estado.
A estratégia tem como objetivo minimizar divisões internas na oposição e criar uma sequência planejada de projetos eleitorais. Enquanto Cícero fortalece sua posição em 2026, Pedro ganha espaço e apoio para viabilizar seu nome na Capital em 2028, num cenário que pode reduzir rachas e otimizar recursos políticos.
No entanto, a articulação traz desafios. Cícero, caso confirme a candidatura, precisará se desincompatibilizar do cargo de prefeito seis meses antes da eleição, o que pode gerar impactos na gestão de João Pessoa e na sucessão municipal. Além disso, o prefeito mantém, no discurso público, proximidade com o governador João Azevêdo (PSB), o que pode exigir habilidade política para transitar entre grupos até a definição das alianças.
O eventual ingresso de Juliana Cunha Lima como vice reforçaria o simbolismo da união entre João Pessoa e Campina Grande, ampliando o alcance eleitoral. Por outro lado, a narrativa de “aliança de famílias tradicionais” pode abrir espaço para críticas de concentração de poder e favorecimento de dinastias políticas.
Outro ponto sensível é a necessidade de capilaridade no interior do estado. Apesar do peso político da união entre as duas maiores cidades, a vitória para o Governo da Paraíba depende também do apoio de prefeitos e lideranças locais em regiões como Sertão, Brejo e Agreste.
A costura entre Cícero e os Cunha Lima ainda está em fase de rascunho, mas já altera os cálculos dos principais atores da cena política paraibana. Caso se consolide, o acordo pode reduzir a fragmentação da oposição e criar um palanque competitivo em 2026, além de preparar terreno para 2028. Se não avançar, pode reabrir disputas internas e obrigar cada grupo a buscar alternativas isoladas.
Em síntese, o movimento revela uma estratégia escalonada que, se bem executada, pode resultar em ganhos expressivos para ambos os lados. Mas, se mal conduzida, corre o risco de transformar-se em um caso de oportunidade perdida no xadrez político paraibano.