A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS será instalada nesta quarta-feira (20), após meses de cobrança no Congresso. O colegiado nasce a partir do escândalo dos descontos ilegais em aposentadorias, mas também investigará empréstimos consignados e poderá atingir sindicatos ligados ao setor, entre eles o Sindinapi, do qual faz parte José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão do presidente Lula.
Embora o tema tenha perdido espaço no debate público depois que o governo Lula autorizou reembolsos aos aposentados prejudicados, a comissão se torna terreno de embate político. A oposição trabalha para desvincular o ex-presidente Jair Bolsonaro do caso, buscando transferir a responsabilidade para a atual gestão. O líder oposicionista no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), afirmou que “fiscalização e implementação de política pública é com o governo atual”, rejeitando a tese de que os problemas começaram durante a administração anterior. Ele ainda minimizou o arrefecimento da pressão popular e disse que será difícil “botar debaixo do tapete o que está acontecendo”.
Aliados de Bolsonaro também reforçam esse discurso nas comissões e nas redes sociais, lembrando que o ex-presidente sempre fez críticas severas a sindicatos e associações, em contraste com a trajetória sindical de Lula. Para opositores, esse contraste serve de argumento para enfraquecer a narrativa governista de que as irregularidades tiveram origem antes de 2023.
Do lado do governo, parlamentares sustentam que as fraudes no INSS começaram em 2017 e se agravaram durante o período Bolsonaro, cabendo agora ao colegiado revelar por que não foram tomadas medidas eficazes anteriormente. O senador Fabiano Contarato (PT-ES) declarou que “a CPMI não pode se tornar um palco de manipulação da opinião pública” e que a prioridade deve ser apurar como os golpes prosperaram mesmo diante de denúncias recorrentes.
A presidência da comissão ficará com o senador Omar Aziz (PSD-AM), enquanto a vice será ocupada pela senadora Damares Alves (Republicanos-DF). O relator será o deputado Ricardo Ayres (Republicanos-TO), indicado pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). O plano de trabalho deve ser apresentado até a próxima terça-feira (26).
Com menor pressão popular e forte disputa narrativa, a CPMI se apresenta como um novo palco para a oposição tentar blindar Bolsonaro do escândalo e, ao mesmo tempo, mirar no entorno do presidente Lula, em especial no envolvimento de entidades ligadas ao seu irmão.