
O vídeo publicado pelo cantor sertanejo Zezé di Camargo criticando o SBT e pedindo que seu especial de Natal não seja exibido ultrapassa os limites de uma discordância política legítima e entra em um terreno perigoso para a democracia brasileira. Ao reagir de forma exaltada à presença do presidente Lula em um evento institucional da emissora – o lançamento do SBT News -, o artista não apenas distorce o papel de um veículo de comunicação, como também reforça uma lógica de intolerância que tem corroído o debate público no país.
É importante lembrar que a participação de autoridades eleitas em eventos institucionais de empresas de comunicação é prática comum em democracias consolidadas. Isso não transforma uma emissora em “aliada” ou “inimiga” de um governo, tampouco autoriza acusações de natureza ideológica ou moral. Ao sugerir que o SBT estaria sendo “prostituído” por supostas decisões políticas, Zezé adota uma retórica agressiva, simplista e incompatível com o peso que carrega como figura pública com milhões de seguidores.
Mais grave ainda é o fato de o cantor direcionar suas críticas às filhas de Silvio Santos, atuais dirigentes do grupo, em um tom que soa misógino. Ao personalizar o ataque em mulheres que ocupam cargos de comando, Zezé reforça um padrão recorrente no radicalismo político brasileiro: quando mulheres exercem poder, suas decisões são frequentemente desqualificadas de forma mais dura, emocional ou ofensiva do que ocorreria com homens. Não se trata apenas de discordância, mas de uma tentativa de deslegitimação que carrega um viés de gênero evidente.
Esse tipo de comportamento fragiliza a democracia porque desloca o debate do campo das ideias para o campo da hostilidade. Em vez de promover pluralidade, diálogo e respeito às instituições, alimenta-se uma narrativa de “nós contra eles”, na qual qualquer gesto institucional passa a ser tratado como traição ideológica. Quando artistas, que exercem enorme influência social, optam por esse caminho, ajudam a normalizar o radicalismo e a intolerância política, contribuindo para um ambiente em que a divergência deixa de ser saudável e passa a ser vista como ameaça.
O Brasil já paga um preço alto por essa polarização permanente. Ataques a instituições, à imprensa e a pessoas públicas tornaram-se rotina, enfraquecendo a confiança coletiva e criando um clima de instabilidade constante. A fala de Zezé di Camargo se insere exatamente nesse contexto: não é um ato isolado, mas parte de um ciclo em que celebridades transformam opiniões pessoais em discursos inflamados, muitas vezes sem responsabilidade sobre as consequências.
Liberdade de expressão é um pilar da democracia, mas ela não existe sem responsabilidade. Criticar governos, empresas ou decisões editoriais é legítimo; desqualificar instituições, atacar mulheres em posições de liderança e estimular o boicote ideológico como reação automática a divergências políticas não é. Quando figuras públicas confundem esses limites, não estão apenas expondo suas convicções – estão ajudando a aprofundar fissuras que tornam a democracia mais frágil, menos tolerante e mais vulnerável ao extremismo.
O Brasil precisa se curar…
O vídeo de Zezé
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